Há muita vida nos corredores do Asilo Dom Bosco, em Itajaí. Há muitas histórias de alegrias e há muitas histórias de tristezas. Não é muito diferente da vida que se leva além dos muros que cercam a casa que abriga 82 idosos: 49 mulheres e 33 homens que vivem juntos o que lhes restam de vida. Vivem com muita dignidade graças aos esforços da equipe multidisciplinar que trabalha empenhada para garantir qualidade de vida à pouca vida que os habitantes do asilo ainda tem.
A reportagem do Notícias de Penha passou uma tarde na casa localizada na esquina da Rua Indaial com a Rua Carolina Vailatti, no Bairro São Judas, em Itajaí. Foram algumas horas de observação, ouvidos atentos e coração aberto. O asilo está promovendo uma campanha de Natal para arrecadar doações para os senhores e senhoras que vivem lá. Cada uma com as suas necessidades: alguns querem um armário, outros um chinelinho de dedo…objetos para tornar o dia a dia mais feliz.
Fábio Soares, 75 anos, chegou ao asilo há um ano e dois meses. Não revelou muito do que fez antes de chegar à casa. Disse apenas que viveu de bicos e teve uma vida tranquila. É pai de dois filhos e tem uma neta. Fábio adora passar o dia em busca de diversão no asilo. A turma lá diz que ele é o agitador. Para o Natal, Fábio está bolando uma forma de transformar a cadeira de rodas que o carrega de um lado para o outro em uma árvore decorada com luz e tudo. Ele ainda não encontrou uma forma de garantir as luzes piscando na cadeira, mas garante que vai decorar o meio de locomoção com guirlandas e bolas coloridas.
No dia da conversa com o Notícias de Penha, Fábio estava fazendo planos para uma ida à praia. Apesar da dificuldade de locomoção (ele tem uma perna amputada), o senhorzinho diz que vai dar um mergulho na Praia da Atalaia. Ano passado ele conseguiu se refrescar graças a um projeto da prefeitura de Itajaí, que a garantiu acessibilidade à praia por meio de uma cadeira especial para deficientes. “Esse eu vou. Ninguém me segura”, comenta, empolgado com a empreitada.
O Asilo Dom Bosco foi fundado no dia 17 de março de 1936 e recebia pessoas desamparadas de todas as idades. Só muito tempo depois que passou a ser morada apenas de idosos. Alguns com amparo da família, outros totalmente sozinhos. É o caso de uma senhora que chegou aos 19 anos, na década de 60, e está na casa até hoje. Nunca teve contato com familiares.
Já para a aposentada Bertolina Souza Fagundes, 83 anos, a vida preparou um roteiro diferente. Mãe, dona de casa e à mercê de um companheiro alcoólico, viu-se sozinha com seis filhos quando o marido morreu. Batalhou e garantiu a educação da prole. Carinho e amor nunca faltaram, nem antes e nem agora.
Os filhos, a maioria na casa dos 50 anos, trabalham o dia todo e viram no Asilo Dom Bosco o local ideal para que a mãe passasse dias de muita alegria. No dia da visita do Notícias de Penha, a reportagem encontrou um dos filhos de Bertolina: Adolfo Gilmar Fagundes, 50 anos. Ele mora e trabalha em Camboriú, mas dificilmente passa mais de dois dias sem visitar a mãe em Itajaí. Os encontros são sempre regados de amor, toques e lembranças da vida que partilharam juntos uns anos atrás e hoje conversam.
“O Asilo Dom Bosco é um porto seguro para ela, para mim e para meus irmãos. O alicerce é a família”, disse Adolfo.
Os custos da estadia da senhora Bertolina são divididos entre Adolfo e mais quatro irmãos. Todos presentes na vida da mãe. “Ela é nossa vida. Ela é uma mãe maravilhosa e sempre nos transmitiu muito amor. O que tu espera dos teus filhos se você só dá carinho? Muito amor, né!”, disse.
A Casa
O Asilo Dom Bosco completou 81 anos em 2017. É a casa de muitos senhores e senhoras há mais de 10, 20, 50 anos. Para se manter, o local conta com o apoio da prefeitura de Itajaí, doações e do pagamentos pelas vagas particulares. Funciona assim: dos 82 moradores, 56 são financiados pela prefeitura e chegam ao Asilo por meio do Centro de Referência Especializados de Assistência Social (Creas). Ou seja, estão no Asilo por conta de alguma situação de vulnerabilidade ou de risco. Os outros 26 idosos da casa são das vagas particulares; pagas por parentes.
O custo mensal do asilo gira em torno de R$ 250 mil. Parte desse valor vem pela prefeitura, mas são as doações e o pagamento das vagas particulares que garantem o equilíbrio das contas no final do mês. A maior despesa é com pessoal. Para dar qualidade de vida aos moradores, o Asilo Dom Bosco conta com um equipe multidisciplinar com enfermeiros, técnicos em enfermagem, nutricionista, fisioterapeutas, psicóloga, assistentes sociais e mais os funcionários do setor administrativo. São quase 60 pessoas.
Visitas
Uma das exigências da coordenação do Asilo é de que os parentes dos idosos façam visitas regulares; pelo menos duas vezes por semana. Infelizmente, segundo o coordenador do asilo, Rafael José Ramos, nem todos os familiares têm essa sensibilidade. “A gente cobra bastante a visita. É importante para o idoso e ajuda muito a diminuir casos de doença”, diz.
Além dos familiares, o Asilo está aberto diariamente para as visitas da comunidade. Se forem visitas em grupo, é bom ligar antes para agendar. Se for sozinho ou acompanhando, nem precisa ligar. Apareça por lá, de segunda a sexta, das 14h às 18h e doe um pouco do seu tempo, da sua atenção.
Campanha de Natal
Se você quer ajudar ainda mais o Asilo Dom Bosco, fique atento à campanha de Natal da instituição. Corre lá no Facebook do asilo e assista ao vídeo gravado por alguns dos idosos. Eles pedem presentes e mimos para não deixar passar em branco o dia 25 de dezembro. Tem de tudo na lista das senhoras e senhores. Assista ao vídeo. Além de melhorar o teu dia vai te fazer dar um pulo lá no Asilo para fazer o bem.
Outras doações
Se você quer ajudar a instituição de alguma maneira, você pode doar alguns itens indispensáveis para o dia a dia dos idosos: como fraldas descartáveis tamanho G, leite integral (BASTANTE), alimentos não perecíveis e suplementação alimentar (ligue antes para saber qual comprar).