O filho da dona de casa Marlene de Freitas Cviliks, 55 anos, tem síndrome de down e está sofrendo com alguns problemas no colégio onde estuda, a Escola Básica Municipal Rubens João de Souza, no Centro de Penha. O garoto, que será identificado aqui pela iniciais do nome, L.F.C., tem 13 anos e está no 6º ano. Desde o começo do ano letivo, o ensino dele está prejudicado por conta de problemas com o segundo professor, que dá apoio aos outros professores em sala de aula com alunos especiais.
A primeira professora de L. permaneceu com ele por 30 dias e acabou deixando a escola após receber um proposta melhor de trabalho. O jovem ficou em casa alguns dias até que a Secretaria de Educação contratasse um novo professor. O contratado, segundo Marlene foi informada pela secretaria, tinha cerca de 10 anos de experiência com crianças especiais. O professor, porém, ficou apenas dois dias dando suporte ao aluno.
A mãe acusa a professor de negligência; o filho comeu a merenda quente com as mãos. “Ele tratou meu filho como um animal, na frente das outras crianças. E mais: meu filho queimou os dedos por conta deste tratamento desumano”, afirmou Marlene, que mora a poucos metros da escola, na Rua Calixto Luiz Honório.
O episódio gerou o início de alguns conflitos entre Marlene, direção da escola e Secretaria de Educação. Assim que soube do ocorrido, ela registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Polícia Civil e avisou à direção da unidade de ensino que o menino não iria mais para a escola enquanto não mudassem o segundo professor.
Marlene procurou a diretora da escola, Sandra Maria Pereira, cobrando explicações sobre o caso. Sem o consentimento da diretora, a mãe do aluno gravou a conversa. Sandra afirmou que o professor estava se adaptando e que era preciso dar uma segunda chance ao docente. Marlene afirmou que não deixaria mais o filho aos cuidados do professor.
“Não tem direito”
Ela então procurou a secretária de Educação, Suselli Batista Anacleto, para expor a situação e cobrar por um novo segundo professor. Marlene novamente gravou a conversa pelo celular e registrou o que ela considera o maior absurdo. “Para fugir do problema, a Suselli afirmou que o meu filho não tinha direito ao segundo professor e que ele deveria passar por uma junta médica da prefeitura para identificar o grau de dependência do menino. Eu apresentei laudos médicos do meu filho, e ela não aceitou”, afirmou Marlene.
A reportagem do Notícias de Penha teve acesso aos áudios gravados por Marlene. Confira abaixo o momento em que a secretária de Educação, Suselli, afirma que a síndrome de down é uma doença, e não uma deficiência.
Segundo a ONG Movimento Down, a síndrome de Down ocorre quando, ao invés da pessoa nascer com duas cópias do cromossomo 21, ela nasce com 3 cópias, ou seja, um cromossomo número 21 a mais em todas as células. Isso é uma ocorrência genética e não uma doença. Por isso, não é correto dizer que a síndrome de Down é uma doença ou que uma pessoa que tem síndrome de Down é doente.
Reportagem não agradou
As conversas entre Marlene, a diretora Sandra e a secretária Suselli aconteceram no primeiro semestre, alguns dias após o episódio envolvendo o segundo professor. O menino ficou 33 dias longe da escola. Quando a secretaria encontrou uma substituta, L. retornou para os estudos. Mesmo assim, ela denunciou a situação ao SBT de Santa Catarina, que publicou em vídeo o caso do filho de Marlene. “Minha intenção sempre foi alertar outros pais para esta situação. Se acontece comigo, acontece com mais gente na cidade”, comentou a moradora.

No dia seguinte à veiculação da reportagem no SBT, a professora contratada pela secretaria parou de enviar recados para a mãe, na agenda do aluno. “Todos os dias eu recebia um feedback sobre o meu filho: se ele havia comido, se estava bem, enfim, informações que toda mãe de um filho especial precisa. Depois que a reportagem do SBT foi para o ar, a professora não enviou mais nada”, relata.
Marlene culpa a diretora Sandra pelo ocorrido. “A professora é boa e atenciosa. O problema é a Sandra, que persegue meu filho na escola e não gosta de mim porque eu brigo por ele. Há duas semanas ela gritou com o L. na frente de outros alunos e meu filho surtou. Registrei um novo Boletim de Ocorrência por maus tratos. Esta situação não pode continuar assim”, desabafou a mãe.
Criança que sofre
O educador Jonata Schulze foi o segundo professor de L. em 2017. Ele recorda que o aluno se desenvolveu bastante naquele ano, sem qualquer problema. “Era tudo planejado”, diz.
Por conta do novo processo seletivo que ocorreu no início do ano, Jonata não conseguiu garantir a vaga como segundo professor na EBM Rubens João de Souza, o que deixou Marlene preocupada. “Ela me contou o que está acontecendo. É realmente um absurdo. Ele (criança) comia de colher, eu cortava a carne para ele, que tem dificuldade de coordenação. Quem sofre mais nesse caso é a criança. O que falta é uma direção humanizada na escola. Estou bem desapontado”, comentou o professor.
O outro lado
Quem falou pela diretora Sandra e pela secretária Suselli foi o secretário de Governo, Waldemir José Mafra Junior. Segundo ele, o caso está sendo acompanhando de perto; Marlene, segundo ele, foi atendida no gabinete do prefeito Aquiles da Costa (MDB).
“Cabe ressaltar que o aluno está sendo assistido por uma equipe multidisciplinar (educação, assistência social, saúde e MP), após reunião solicitada pelo Executivo Municipal; infelizmente dona Marlene não compareceu em nenhuma das reuniões”, afirmou o secretário.
Conforme Junior, o único pedido da mãe do aluno, no momento, é que sejam realizadas anotações diárias por parte da equipe escolar na agenda do menor. “Pedido esse que foi acatado pela direção escolar, entretanto, o aluno não compareceu as aulas essa semana”, completou.
O caso está sendo acompanhando pelo Ministério Público de Balneário Piçarras e Conselho Tutelar de Penha.